Casa Cordovil
Évora, Portugal
Final do século XV-início do século XVI
Mudéjar
Edifício civil de uso contínuo, foi sendo descaracterizado com adaptações sucessivas para diferentes funções. Deve ser edifício de meados do século XV: redescobriu-se, há poucos anos, no nível térreo da facada principal, uma “loggia” de pesada arcada gótica, que revela a importância social e económica do proprietário. Actualmente é propriedade particular e acolhe serviços administrativos.
A denominada Casa Cordovil é um edifício de forma trapezoidal, de dois pisos no lado sul do Largo da Porta de Moura, uma das principais praças da cidade, com a fachada principal virada à praça e duas outras para ruas radiais.
O lado ocidental da fachada principal é um alto muro encimado por merlões chanfrados na parte superior da face anterior e de tipo muito comum em Évora na época manuelina, muro, esse, que defende de vistas o pátio da casa donde arranca a escadaria que, terminando num patamar, dá acesso ao andar nobre do edifício – é sobre esse patamar, avarandado, que se ergue uma elegante estrutura de dupla função: por um lado, utilitária, a de proteger do sol e da chuva a entrada do piso nobre do edifício; por outro, de aparato, como mirante sobre a praça. Esse alpendre tem uma alta arquitrave retabular sem ornamentos sobre a escada de acesso; na fachada principal e na fachada tardoz tem, enquadrados por alfizes de alvenaria com os ângulos marcados por fogaréus graníticos, ajimezes suportados por elegantes colunas marmóreas de bases geometrizadas, fustes delgados e capitéis de turbante; os arcos de volta perfeita, ultrapassados, de granito, são ornamentados no intradorso com rendilhados semelhantes aos habitualmente realizados em tijolo, solução recorrente em Évora e seu aro de influência. Contornando a dupla arcada, uma meia-cana de alvenaria eleva-se na prumada do mainel simulando um arco canopial que é rematado por cogulho que marca o meio do alfiz; o tímpano desse arco tem um círculo em relevo com ornamento cruciforme. As fachadas do alpendre são encimadas por merlões semelhantes aos que coroam o muro do pátio; a abóbada, única, é de ogivas; remata o conjunto um coruchéu cónico terminado com motivo esferóide.
Quer pelas soluções estruturais e ornamentais – uso do alfiz; arcos ultrapassados e de intradorso rendilhado; mainéis finos e elegantes; capitéis de turbante – quer pelo uso conjugado de distintos materiais – alvenaria de tijolo; granito; mármore nos elementos mais delicados – este alpendre constitui-se como um quase paradigma do gosto mudéjar que teve Évora como epicentro, no final do século XV e início do XVI.
A parte mais visível deste palacete, situado junto às Portas de Moura, é constituída por uma elegante estrutura de dupla função: por um lado, utilitária, a de proteger do sol e da chuva a entrada do piso nobre do edifício; por outro, de aparato, como mirante sobre a praça.
As soluções estruturais e ornamentais – uso do alfiz; arcos ultrapassados e de intradorso rendilhado; mainéis finos e elegantes; capitéis de turbante – e o uso conjugado de distintos materiais – tijolo; granito; mármore nos elementos mais delicados – colocam este alpendre como um quase paradigma do gosto mudéjar de Évora.
Pela influência recebida da grande obra régia de S. Francisco de évora, pelo uso pioneiro de escada exterior granítica de aparato, pela sintonia estilística e tipológica com outras obras, embora sem apoio documental, pode datar-se o alpendre, com segurança, dos últimos anos do século XV ou dos primeiros do XVI, em pleno reinado de D. Manuel (1495-1521).
Espanca, T. Inventário Artístico de Portugal – Distrito de évora, vol. VII, Lisboa, 1966.
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Vieira da Silva, J. Paços Medievais Portugueses, Lisboa, 1995.
Vieira da Silva, J. O Tardo-Gótico em Portugal: a Arquitectura no Alentejo, Lisboa, 1989.
Manuel J. C. Branco "Casa Cordovil" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2024. 2024. https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;18;pt
Autoria da ficha: Manuel J. C. Branco
Número interno MWNF: PT X
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