Palácio da Vila
Palácio Nacional
Sintra, Lisboa, Portugal
Século XI, séculos XV e XVI, século XVIII
Manuelino-mudéjar
D. Manuel I (r. 1495-1521).
Sintra foi uma das mais importantes povoações islâmicas do Ocidente Peninsular. Em 1147, foi conquistada pelo o primeiro rei português, D. Afonso Henriques, que colocou os seus homens de armas no ainda chamado Castelo dos Mouros, já existente antes do século XI. Julgamos que a origem do Palácio da Vila, situado entre as colinas e sobranceiro às terras baixas situadas a Norte, é da mesma época. Nos séculos XV e XVI, o Paço da Vila de Sintra era complementar dos paços da Alcáçova e da Ribeira de Lisboa, e a Corte ficava aqui instalada por períodos relativamente longos.
A construção tem origem islâmica, talvez do século VIII, então com dimensões modestas, mas beneficiou de reformas nos primeiros anos do século XV, e teve, pelo menos, duas outras intervenções ordenadas por D. Manuel I, uma das quais, logo em 1495. Foram elas que lhe conformaram o aspecto actual, tudo feito sobre as estruturas mais antigas, com acrescentamento de novas alas e salas, mas sem destruir as pré-existências, embora se possam ver outros trabalhos de modernização ou reforma, alguns até já da segunda metade do século XVIII, feitos na sequência do grande terramoto de 1755.
Mas, como dissemos, foram as grandes empreitadas manuelinas que lhe conferiram o essencial do seu aspecto mudéjar, com pátios dotados de tanques e fontes à maneira andaluza, com o revestimento de paredes com azulejos comprados em Sevilha, e o uso de janelas e portas com mainel médio e arcos superiores ultra-semicirculares enquadrados numa moldura recta, os chamados “ajimeces”. Também se construíram tectos de tradição mudéjar, nomeadamente na capela privativa, ainda hoje conservado, sobre o que foi remodelada, se não mesmo construída de raiz, por volta de 1505.
Na fachada virada à praça pública, destaca-se coroamento de ameias mudéjares, na tradição das do Palácio de Medinha Azhara, e que se encontram, por exemplo, em Mértola, utilizadas na reforma da velha mesquita em igreja paroquial. Já num tipo diferente, sem influências directas ou indirectas islâmicas, temos as janelas duplas de sacada com molduras exuberantes num tipo comum ao último gótico europeu naturalista. Grandes arcos ogivais dão acesso às escadas que levam ao andar nobre, obras que devem datar das reformas do início do século XV. É um monumento onde se alia o gosto pelas artes do Islão, mesmo que recebidas por via indirecta, e a tradição arquitectónica europeia.
Destacam-se também as duas imensas chaminés das cozinhas, pelo menos quatrocentistas, podendo perceber-se, através da simples análise feita a partir de um ponto alto da serra, que estamos em presença de várias construções justapostas.
As marcas mudéjares, e de influência andaluza e aragonesa, estão patentes noutros elementos, nomeadamente no facto de a ligar cada bloco haver pátios com lagos e fontes.
Comunicantes, jardins e recantos de fresco, com os pátios dos Cisnes, da Carranca e da Preta. O aspecto geral que o Palácio então ganhou resultou da vontade expressa de D. Manuel, que queria ter um, como os que tinha visto em Castela e, sobretudo, em Aragão e na Andaluzia. Certamente por isso, a capela quatrocentista foi dotada com um tecto mudéjar de laçaria, e por todo o lado as paredes estão revestidas por azulejos mudéjares de fabrico sevilhano, como na bela Sala da Sereia e na Sala dos Árabes, onde nem falta uma pequena e elegante fonte central. Também no chão das divisões principiais foram aplicadas peças cerâmicas sevilhanas.
O Palácio da Vila, em Sintra, foi refeito por D. Manuel I em finais do século XV e em inícios do século XVI. Foram estas obras que lhe conferiram o essencial do seu aspecto mudéjar, com pátios com tanques e fontes à maneira andaluza, com o revestimento de paredes com azulejos comprados em Sevilha, e o uso de janelas e portas com mainel e arcos superiores ultra-semicirculares enquadrados numa moldura recta, os chamados “ajimeces”. Também se construíram tectos de tradição mudéjar. Na fachada virada à praça pública, destaca-se o coroamento de ameias mudéjares, na tradição das de Madinat al-Zahra.
Análise estilística e através das referências à intervenção de D. Manuel I.
AAVV, Manuelino – à descoberta da Arte do tempo de D. Manuel I, Lisboa, 2002, pp. 60-61.
Dias, P., “Arquitectura mudéjar portuguesa: Tentativa de sistematização”, Maré Liberum, nº 8, Lisboa, 1994, pp. 49-89.
Sabugosa, Conde de, O paço de Sintra, Lisboa, 1903.
Pedro Dias "Palácio da Vila" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2025. 2025.
https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;17;pt
Autoria da ficha: Pedro Dias
Número interno MWNF: PT V
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