Palácio da Sempre Noiva
Évora, Portugal
Final do século XV-início do século XVI
Provável participação de Martim Lourenço (mestre a trabalhar nas obras do Mosteiro de S. Francisco de Évora e do palácio real de Évora, anexo ao referido mosteiro, de 1507 a 1524) ou de colaboradores dele.
Mudéjar
D. Afonso de Portugal, bispo de Évora (1485 a 1522).
O palácio, isolado no campo, foi solar de repouso e pavilhão de caça; planta quase quadrada (cerca de 25 m por cerca de 25 m) que denuncia acrescentos e alterações; volumetria compacta.
Na fachada principal, a oriental, destaca-se um pórtico, já do segundo quartel do século XVI, com pilastras, colunas toscanas e arcos de volta perfeita que acusa influências do renascimento; sob o pórtico arranca a escadaria de aparato que dá acesso ao piso nobre, o segundo, através de porta de lintel simples, direito, com ligeira quebra ao centro, em lanceta rematada por pinha, e com pseudo-colunelos capitelados nas ombreiras. Protegia esta porta um alpendre (seguramente do tipo do da Casa Cordovil, em Évora), de que restam as mísulas de apoio. Nesta fachada abrem-se duas janelas de ajimezes de mainéis marmóreos, articulados por arco conopial e enquadrados por finos colunelos, iluminavam o salão principal, outra janela mainelada de duplo arco em ferradura e outra janela de canto no cunhal nordeste, de arcos de volta perfeita e intradorso recortado em pequenos arcos, solução arquitectónica nova na arquitectura civil senhorial, constituindo-se como elemento de reforço do nascente gosto humanista de contemplação e fruição da Natureza. Todo o piso térreo, desta e das outras fachadas, é muito sóbrio, apresentando pequenas aberturas e frestas para iluminação das dependências dos serviços de apoio do palácio.
Na fachada norte há uma terceira janela da câmara nobre, igual à da fachada oriental, e um ajimez e uma janela de arco em ferradura que serviam outras salas do piso nobre. Nesta fachada, no piso térreo, abria-se, provavelmente, a primitiva porta do edifício, antes da construção da escada de aparato que dá acesso directo ao salão nobre.
Na fachada ocidental, de volumes dissonantes, há uma janela com alfiz, chaminés, vestígios de esgrafito floral que talvez ornamentasse as cimalhas das quatro fachadas, e a torre que foi a primeira estrutura do complexo e que devia remontar ao início do século XV, com três pisos, servida por escada cocleada e que terminava, provavelmente, em terraço protegido por ameias removidas no século XIX. A fachada sul é marcada pela pequena capela com contrafortes cilíndricos, à semelhança da ermida de S. Brás, de Évora. A capela, de início do século XVI, tem porta de arco trilobado, por onde os camponeses acediam aos ofícios religiosos sem perturbarem a privacidade dos proprietários; é rectangular, sem ábside nem transepto, e tem abóbada de dois tramos, densamente nervurada; do segundo piso da torre, de abóbada estrelada, podiam os proprietários seguir os ofícios religiosos através de janela-tribuna.
O edifício está a ser recuperado, há anos, com destino a unidade hoteleira.
O palácio (conhecido como “Sempre Noiva”), isolado no campo, foi solar de repouso e pavilhão de caça. Apesar de sucessivas obras, acrescentos e alterações os elementos estilísticos mais importantes são os do início do século XVI, quando o seu encomendador, o bispo D. Afonso de Portugal, procedia às obras da igreja de S. Francisco, em Évora.
Os elementos mudejares distribuem-se pelas várias fachadas: janelas de ajimezes, maineladas de duplo arco em ferradura, com alfiz caracterizam bem o edifício. Na fachada sul há uma capela com contrafortes cilíndricos, como os da ermida de S. Brás, de Évora.
Os elementos estruturais e a sua articulação denunciam obras, acrescentos e alterações desde o século XV até ao século XVII (uma chaminé tem a data de 1612); os elementos estilísticos mais importantes concentram-se desde o final do século XV até aos anos vinte do XVI, dos reinados de D. Manuel (1495-1521) e início do de D. João III (1521-1557), devendo o grosso dessas obras ter decorrido em simultâneo com as que o proprietário realizava no seu palácio citadino junto à Catedral.
Dias, P. “Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de Sistematização”, Mare Liberum, 8, Lisboa, 1994, pp. 49-89.
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Haupt, A. A Arquitectura do Renascimento em Portugal (Baukunst der Renaissance in Portugal), Lisboa, 1986.
Pereira, G. “Sempre Noiva”, Estudos Diversos (ed. J. Rosa), Coimbra, 1934.
Vieira da Silva, J. Paços Medievais Portugueses, Lisboa, 1995.
Manuel J. C. Branco "Palácio da Sempre Noiva" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2024. 2024.
https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;19;pt
Autoria da ficha: Manuel J. C. Branco
Número interno MWNF: PT Y
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