Castelo de Juromenha
Juromenha, Évora, Portugal
Séc. III-627 AH / IX-1230 AD
Período emiral-almóada
Juromenha, defendida a norte pela ribeira de Mures e a leste pelo rio Guadiana, está implantada numa zona fértil, rica minérios e é um local apto para cruzar o Guadiana. A ocupação na região é constante desde a pré-história e não foi interrompida com o processo de arabização e islamização. Desta época conserva-se o castelo, parcialmente coberto por construções militares abaluartadas.
Há referências a Juromenha em fontes escritas árabes desde, pelo menos, a segunda metade do século III AH / IX AD, momento em que este local é citado ao falar-se das revoltas de muwalladun iniciadas em Mérida por Abd al-Rahman ibn Marwan al-Jilliqi, revolta que se deve ter estendido a toda a bacia do Guadiana. Com a fundação de Badajoz e o abandono progressivo de Mérida, Juromenha parece ter adquirido maior importância estratégica. Ibn Hawqal cita o local, no século IV / X, num dos seus itinerários.
No perímetro da fortificação islâmica detectam-se várias fases: uma das torres, virada essencialmente a norte, construída em alvenaria, e com três pedras datadas de época visigótica reutilizadas na face principal parece ter correspondido a um sistema defensivo inicial. Esta torre é envolvida por panos de muralha em taipa de tipo militar (muito rica em cal), muralha essa que se apoia num conjunto de torres próximas entre si e regularmente espaçadas, com entradas rectas, semelhante ao que acontece em fortificações de época califal (séc. IV AH / X AD). Em outras zonas da muralha, o espaçamento entre as torres é menos regular. A cofragem da taipa é semelhante à de outras fortificações do al-Andalus, e nas esquinas reutilizam-se silhares de época romana.
Por tudo isto, é de crer que a fortificação romana anterior deve ter sido adaptada de forma a servir - na margem direita do Guadiana e em contacto visual com a Badajoz por eles fundada - os interesses autonomistas da dinastia dos Jilliqis. Pouco se sabe da sua ocupação nos séculos IV-V AH /X-XI AD, mas é possível justificar a sua importância no seio do sistema defensivo que rodeia Badajoz, no quadro das conjunturas de rivalidade entre os reinos aftácida e abbádida, ou entre facções aftácidas. Com efeito, em 562 / 1167, aproveitando as dissensões que se deram no Gharb al-Andalus com o afundamento da dinastia almorávida, Geraldo Sem-Pavor ocupa Juromenha, de onde ataca Badajoz, como refere o cronista Ibn Sahib al-Sala. Será tomada pelos almóadas em 565 / 1170 e as suas muralhas podem ter sido parcialmente destruídas, mas o local não perdeu importância estratégica. Sabe-se que, tendo passado para o controle dos almóadas, Juromenha foi ribat, sendo procurada por um dos companheiros de Ibn Arabi que aqui se consagrou ao jihad, em finais do século VI /XII ou inícios do VII / XIII.
Teve, seguramente, obras na fase almóada, mas foi conquistada por D. Sancho II, em 627 / 1230. O perímetro amuralhado de época islâmica não foi muito alterado antes do século XVII.
O castelo de Juromenha é hoje uma fortificação abandonada na margem direita do Guadiana. O período islâmico está, contudo, bem vivo na memória do sítio. Juromenha é citada no itinerário de Ibn Hawqal e nos seus muros reconhecem-se restos da fortificação califal. A fase final da presença muçulmana está presente no relato da conquista de Geraldo Sem Pavor e na passagem da fortaleza para o controlo dos almóadas (565 H./ 1170 d.C.). Nessa altura Juromenha foi ribat, tendo-se um dos companheiros de Ibn Arabi aqui consagrado ao jihad (finais do séc. VI H./XII d.C. – inícios de VII H./XIII d.C.).
O local é referido no século III AH /IX AD, por Ibn Hawqal. Há referências para o século IV / X e teve ocupação no século V / XI, quando Badajoz – a curta distância – era capital de um reino de Taifas. As campanhas de Geraldo e a sua utilização como ribat – no período almóada – configuram uma ocupação continuada no tempo. As suas muralhas apresentam características que apontam para a existência de várias fases até ao domínio almóada.
Correia, F. B. “O Castelo de Juromenha - influências islâmicas e cristãs”, Callipole, vol. 2, Vila Viçosa, 1994, pp. 27-42.
Correia, F. B. “Materiais de época visigótica de Juromenha (Alentejo)”, IV Reunió d'Arqueologia Cristiana Hispànica: Lisboa, 29-30 setembre, 1-2 octubre 1992, Barcelona, 1995, pp. 493-498.
Correia, F. B. e Picard, C., “Intervenção arqueológica no Castelo de Juromenha - primeiros resultados”, Arqueologia Medieval, vol. I, Mértola, 1992, pp. 71-89.
Lobo, F. S. “Alandroal, Terena e Juromenha (três sistemas defensivos)”, Castelos do Alandroal - VII Séculos, Alandroal, 1998, pp. 23-65.
Rei, A. "Os castelos entre o Odialuiciuez e o Odiana (713-1298)”, Castelos do Alandroal - VII Séculos, Alandroal, 1998, pp. 9-22.
Fernando Branco Correia "Castelo de Juromenha" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2025. 2025.
https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=monument;ISL;pt;Mon01;23;pt
Autoria da ficha: Fernando Branco Correia
Número interno MWNF: PT CC
RELATED CONTENT
See also
Virtual Visit Exhibition Trail
In the Lands of the Enchanted Moorish Maiden. Islamic Art in Portugal
Download
As PDF (including images) As Word (text only)