Lápide funerária
Lisboa, Portugal
Museu Nacional de Arqueologia
About Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.
21 de Março de 991 (2 de Muharram de 379 AH)
2003.48.1
Mármore, gravado a buril.
Alt. 37,5 cm, larg. 30 cm, prof. 4,2 cm
Omíadas de Córdova, período califal
Encontrada nos arredores de Cacela (Faro), provavelmente provem de uma oficina moçárabe de Córdova.
Placa rectangular, de mármore branco, com o epitáfio inscrito numa moldura formada por um encordoado simples. A epígrafe revela qualidade e erudição, tanto do ponto de vista epigráfico como textual. A ordinatio é bastante cuidada, sendo as letras e os sinais de abreviatura típicos do século X. A expressão hic requiescunt membra é pouco vulgar na Hispânia, mas encontra paralelos numa inscrição de Córdova, do ano 982, que pertence ao Museu Arqueológico de Sevilha. O epitáfio do bispo algarvio encontra o seu modelo mais próximo precisamente na referida epígrafe, não apenas pela fórmula introdutória utilizada, mas igualmente pela tipologia dos caracteres e pelo próprio encordoado da moldura. Dir-se ia feita pela mesma oficina. Pertence ainda a esta família a inscrição funerária da monja Speciosa e sua mãe Tranquilla, datada de cerca 966 e que apareceu na igreja de Santo André de Córdova.
View Short DescriptionLápide funerária de um bispo que vivia no Algarve em plena época califal e que faleceu em 991 d.C./379 H. Tem paralelos em inscrições cristãs de Córdova da mesma época. Pensa-se que todas elas terão sido produzidas por uma oficina que naquela cidade trabalhava para a comunidade moçárabe.
A data consta da 3ª/4ª linhas da epígrafe, referente ao dia do óbito do bispo Julião. A indicação da Era segue uma modalidade estranha, mas típica em diplomas e epígrafes cristãs imediatamente posteriores à passagem do milénio, onde os numerais relativos às dezenas e unidades precedem o milhar, acompanhados da expressão “post”, “super” ou “peracta”.
Manuela Alves Dias data a epígrafe do ano 987, mas não conseguiu ler correctamente o signo do milhar e não entendeu o V romano, com a haste esquerda quase na horizontal. A leitura correcta será “Era 1029”, isto é, 991 AD (379 AH).
A epígrafe foi revelada por Estácio da Veiga a Emílio Hubner, que a publicou em 1871. Mais tarde perdeu-se-lhe o rasto, vindo de novo a ser localizada em meados da década de 90 do século passado, na posse de um particular, pelo arqueólogo Rui Parreira. Consciente da sua excepcional importância, conseguiu que fosse adquirida através da delegação de évora do IPPAR. Por altura da grande exposição “Portugal Islâmico” a lápide foi transferida para o MNA, de cujo inventário passou a fazer parte.
Estácio da Veiga deu a conhecer que a lápide foi achada no lugar da “Fonte Santa”, nos arredares de Cacela. Esta mesma localidade parece ser já referida na Crónica da Conquista do Algarve, onde se diz que após a tomada da fortificação de Cacela pelas tropas cristãs (séc. XIII), alguns dos seus habitantes refugiaram-se nas redondezas, no lugar da “fonte do Bispo”. O mais provável é que este prelado fosse bispo de Ossonoba (Faro).
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Manuel Luís Real "Lápide funerária" in "Discover Islamic Art", Museum With No Frontiers, 2025.
https://islamicart.museumwnf.org/database_item.php?id=object;ISL;pt;Mus01_C;48;pt
Autoria da ficha: Manuel Luís Real
Número interno MWNF: PT 73